Friday, 28 March 2014


"O eu de cada pessoa tornou-se o seu próprio fardo; conhecer-se a si mesmo tornou-se antes uma finalidade do que um meio através do qual se conhece o mundo. E precisamente porque estamos tão absortos em nós mesmos, é-nos extremamente difícil chegar a um princípio privado, dar qualquer explicação clara para nós mesmos ou para os outros daquilo que são as nossas personalidades. A razão está em que, quanto mais privatizada é a psique, menos estimulada ela será e tanto mais nos será difícil sentir ou exprimir sentimentos." 
SENNETT
“All my possessions for a moment of time.”
Queen Elizabeth I
                                 "To be alone as a woman"
© James Gallagher
donnez-moi donc un corps.
DELEUZE
“All my life my heart has yearned for a thing I cannot name.”
ANDRÉ BRETON
"At that time I lived with and for the rain. I tried to imagine how everything I saw would look in the rain and on the screen. It was part game, part obsession, part action. 
I had decided upon several places in the city I wanted to film and I organized a system of rain watcher, friends who would telephone me from certain sections of town when the rain effects I wanted appeared. I never moved without my camera - it was with me in the office, laboratory, street, train. I live with it and when I slept it was on my bedside table so that if it was raining when I wokue up I could film the studio window over my bed... 
With the swiftly shifting rhytm and ligh of the rain, sometimes changing within a few seconds, my filming had to be defter and more spontaneous."
JORIS IVENS

Like music, it is within ourselves

O malogrado Que viva Mexico!, Einsenstein 
Two Years at Sea, Ben Rivers

We enter our environment, and it is perceived through us – the environment and us coexist: we function through one another.
This disappearance of any emotional distance between the self and the landscape is what characterises Eisenstein’s concept of nonindifferent nature. 
Briefly the images on the screen anticipate the delirious all-over textures of Abstract Expressionism, where human and vegetal forms inextricably merge. 
ROBERT ROBERTSON

a natureza não é indiferente

© Katrien De Blauwer

"...the whole complex of emotions and traits that characterise me extended infinitely beyond me to become an entire, vast country with mountains, forests..."

Eisenstein’s idea of 
the filmmaker as the landscape

Friday, 21 March 2014

conversas de hoje em dia


: das árvores e dos homens :


IL GRIDO
notas espontâneas 
[que bom que é quando um filme dá vontade de escrever]

Um Antonioni inicial em que pressinto determinados aspectos que superficialmente me poderiam afastar um pouco à partida – a música, por muito linda que fosse, em vez de me emergir na história, teve precisamente o efeito contrário: não conseguia parar de notar como a minha interpretação estava a ser persistentemente conduzida e sentia a necessidade de um espaço de silêncio, um espaço para respirar, para absorver toda a imensidão devastadora dos acontecimentos (a música, para meu desgosto, desatava-me o nó na garganta). 

Mas algo ultrapassa quaisquer pormenores superficiais. Aquele homem, um invólucro de pessoa, uma casca ao vento que se arrasta, sujo e cansado. Como uma árvore. Como todas as árvores que preenchem o filme. As pessoas misturam-se com essa paisagem campestre em destruição, ela própria uma casca do que era, um resto em desaparecimento. Fantasmas do que eram. Aldo é como uma dessas árvores frágeis e despidas – ele bamboleia, ele arrasta-se, ouve-se os seus ossos estalarem da mesma forma que as árvores se abanam ao vento. E ultimamente cai (aquele abalar antes da queda, como Aldo se parece com a árvore que a meio do filme é puxada das suas raízes para o chão, por cordas que puxam e puxam pelas mãos dos homens.) Mas já no início, na cena sublime da conversa com Irma, no seu desespero, Aldo agarra bruscamente em Irma, até a câmara treme, o solo é instável, duas árvores inclinam-se uma sobre outra, prestes a cairem, derrubadas pela profunda dor de Aldo que tenta arrastar Irma consigo até ao chão. 

O que me fere é essa parecença. Essa naturalidade, essa humanidade que tenta resistir perante a imensidão consumidora da destruição – o amor que se desgasta e os espaços que perdem árvores e ganham aeroportos. Mas que tenta resistir, tenta e tenta, por muito frágil que seja. Mas pouco e por pouco tempo.

 Espíritos destruídos e não somos mais do que pedaços de terra, galhos secos com rachas da passagem do tempo, do frio, da chuva e que rangem ao som do vento. 

Ou como o Antonioni sabia mais da humanidade do que nós todos. Santo Antonioni.

Wednesday, 19 March 2014

Found footage has its romantic connotations. 
It suggests an archeological unearthing or a rescue effort – the artist as savior. As twilight falls on film as material, this image has been intensified. The lost orphan films must find a home before chemical degradation renders them lifeless forever.
source

~

SANS SOLEIL


Saturday, 15 March 2014

Language is a skin: I rub my language against the other. It is as if I had words instead of fingers, or fingers at the tip of my words. 
My language trembles with desire.

ROLAND BARTHES

Monday, 10 March 2014

quando um teaser tem (parte da) cena mais bonita do filme 
[no meio de um ambiente e de uma estrutura de outro mundo, fiquei agarrada a este simples jogo do toca e foge]
~

da poesia dos resquícios

MARGARET TAIT


Saturday, 8 March 2014

Do you think they will understand what we’re talking about?

"I am not very verbal and actually hate talking."
ANTONIONI, Michelangelo

 "... por vezes, nós podemos ter dificuldade em traduzir um discurso interno em discurso externo, como se a diferença entre os códigos respectivos fizessem nascer problemas e dificuldades de tradução análogas às da tradução propriamente dita."
GARRONI, Emilio

Thursday, 6 March 2014

"ler o teu rosto
 é abrir um livro ao acaso 
numa aflição." 

Renata Correia Botelho, Um Circo no Nevoeiro

Sunday, 2 March 2014

para recordar com carinho


Disse o Godard a propósito desta curta:
«Alain Resnais est le deuxième monteur du monde après Eisenstein» 
 (...) ce court-métrage si «génialement monté» que sa centaine de plans donne l'impression de n'être qu'«un seul et jupitérien travelling (au) phrasé prodigieux».

Saturday, 1 March 2014