Monday 19 August 2013

sabedoria auto-didacta

adieu au langage

TARKOVSKY, Nostalghia
 
O discurso amoroso é hoje de uma extrema solidão. Este discurso é talvez falado por milhares de pessoas (quem sabe?), mas não é defendido por ninguém. Está completamente banido das linguagens circundantes: ignorado, desacreditado ou ridicularizado por elas, cortado não somente do poder, mas também dos seus mecanismos.
(...)
Quer seja na passagem de um amor a outro ou no interior do mesmo amor, não deixo de "recair" numa doutrina interior que ninguém partilha comigo.
(...)
Hoje, porém, sobre o amor não existe qualquer sistema: e os poucos sistemas que rodeiam o apaixonado contemporâneo não o situam devidamente (a não ser desvalorado): por mais que se oriente para esta ou aquela das linguagens que recebe, ninguém lhe responde a não ser para o desviar daquele que ama.
 
BARTHES, Fragmentos do Discurso Amoroso

Monday 12 August 2013

Sunday 4 August 2013

☼ belas férias ☼


ÓCULOS ESCUROS

Suponhamos que chorei por causa de qualquer incidente de que o outro não se apercebeu (chorar faz parte da actividade normal do corpo apaixonado) e que, para que tal não se veja, ponho uns óculos escuros sobre os meus olhos embaciados (belo exemplo de denegação: escurecer a vista para não ser visto).
A intenção deste gesto é calculada: quero guardar o benefício moral do estoicismo, da dignidade ("É indigno dos grandes espíritos espalhar à sua volta a perturbação que sentem" dizia Clotilde de Vaux) e ao mesmo tempo, contraditoriamente, provocar a terna interrogação ("Mas que tens?"); quero ser ao mesmo tempo criança e adulto.
BARTHES, Fragmentos de um discurso amoroso
 
Anna Karina on why Godard wears sunglasses:
"It's not that his eyes are too weak. It's that his universe is too strong."
Em Teorema, o "outro" não fala, mas inscreve algo em cada um dos que o desejam - produz o que os matemáticos chamam uma catástrofe (a alteração de um sistema por outro): é verdade que este mudo é um anjo.
 
BARTHES, Fragmentos de um discurso amoroso