Saturday, 25 February 2012

O suspense, o perigo iminente.
Louis Malle e Miles Davis.

Desde o início, a cara magnetizante de Jeanne Moreau enche o ecrã. Só ouvimos murmúrios inquietantes e ansiosos de uma apaixonada, até entrar o trompete de Miles Davis. São estes dois dos elementos essenciais no filme imponente de cortar a respiração que é Ascenseur pour l'Échafaud de Louis Malle. 
O trompete electrificante de Miles Davis é majestoso, acompanha o amor exacerbado e desesperante do filme, faz parte do filme, e é como se cada contorno da cara angustiada de Moreau fosse uma nota no trompete de Davis. Cada acontecimento torna-se mais tenso e não ouvimos uma única nota que nos dê esperança (pois neste filme, se ela surge por momentos, é muita rapidamente nos tirada).
Pela cidade vazia e assombrada, por um elevador sufocante, por uma auto-estrada escura, andamos à deriva neste filme de contornos de film noir que anuncia já a nouvelle vague.
Esta vertigem que é Ascenseur pour l'Échafaud é a história de um amor desolado, mas também pode ser visto, de forma perceptível mas discreta, como o retrato de uma geração afectada pela guerra e que, no meio do que viu, se sente dormente, continuando a desejar um final mais feliz, um escape, mas sem grandes esperanças.