(Dedicatória de François Truffaut à Cinemate de Henri Langlois no filme Baisers Volés)
E a febre pelo cinema continuou.
Langlois, um documentário sobre o fundador da Cinemateca Francesa de Eila Hershon e Roberto Guerra é algo fora do comum.
Quando Langlois aparece não é para falar de filmes, porque segundo ele essa não é a sua função, a sua função é mostrar filmes, todos os filmes, os bons e os maus. Ele aperece sim a passear por Paris, a fazer-nos uma visita guiada pelos sítios que marcaram a sua juventude e a sua infância. Fala-nos como depois de ter acabado os trabalhos e querer ir brincar o pai o obrigava a ir buscar cigarros a uma tabacaria e que por isso mesmo durante 20 anos não fumou. Passa por Pigalle a boulevard dos cinemas onde passavam os filmes nas suas versões originais e onde passava aí os seus dias em jovem. Ouvimos a célebre história de quando um médico disse aos seus pais para o levaram para a montanha para apanhar ar e estes como não tinham dinheiro o levaram durante um mês todos os dias ao topo da Torre Eiffel, na altura em que se estava a gravar o filme Paris qui dort de René Clair. Através de testemunhos de pessoas como Ingrid Bergman, Jeanne Moreau, Jean Renoir e Catherine Deneuve entre outros ouvimos histórias das sessões secretas que Langlois fazia durante o controlo Nazi em França de filmes como o Bronenosets Potyomkin onde chegava mesmo a parar a projecção e dizer às pessoas que elas eram demasiado estúpidas para aquele filme que então se quisessem que lhes mostrava um filme estúpido (já me apeteceu tantas vezes fazer isso). E no meio disto (e tanto mais) são mostrados filmes mudos que marcaram a juventude de Langlois, como The Battle at Elderbush Gulch, Boobs in the Woods e Sous les Toits de Paris, no caso deste último onde se vê a Paris popular que ele tanto adora.
E haviam tanto mais para dizer deste pequeno documentário que nem chega a chamar-se longa-metragem tendo apenas 52 minutos (bem podia ser mais longa, porque havia de facto tanto mais para contar e explorar com este formato pouco convencional de documentário).
"Acreditas que sou Henri Langlois?
Não.
Henri Langlois não existe, só existe a Cinemateca."
P.S: É pena o documentário ser todo falado em inglês, seria preferível ouvir cada um a falar a sua língua mãe.
(Uma pessoa vê estas coisas e só lhe apetece passar os dias em Pigalle a ver filmes e de câmara em punho.)