Se refizermos todos os momentos da história de La Piel que Habito, voltando atrás no tempo, tudo regressa a uma relação, a relação doentia entre dois irmãos, que herdaram a loucura da sua mãe. Apesar de passar um pouco despercebida, acho que a personagem de Marilia existe no filme de Almodóvar de uma forma muito discreta mas muito essencial. Nada foi deixado ao acaso neste filme, surgindo mesmo diversos pormenores que aos olhares mais atentos denunciam o desenrolar da trama como o facto de Vera querer ir para o jardim com Zeca ou o vestido que usa no fim do filme. A loucura parece como que quase um gene feminino nos filmes de Almodóvar e neste essa ideia é levada a um extremo, é uma loucura hereditária e contagiosa com consequências mórbidas.
Todas as personagens parecem cada vez mais embrenhadas na loucura desta mulher, que acaba por ser mais representada pelo seu filho, Robert, o cirurgião cujos "genes doentios" e as suas inevitáveis consequências o levam a criar uma personalidade quase como Dr. Jekyll (o célebre cirurgião) e Mr. Hyde (o homem que mantém refém uma mulher para a usar como cobaia das suas experiências retorcidas). Neste filme, Robert é a figura central, a sua vida passada é-nos contada e vemos todas as consequências trágicas desses acontecimentos na sua vida presente, mas, acredito que, apesar de muito discreta e subtilmente, Marilia é o cerne de tudo. Na verdade, a loucura quase genética das mulheres é o cerne de tudo, enquanto a história é o desenrolar sinistro e complexo dessa ideia.
O filme tem bastante mais a dizer do que isso mas esta foi a ideia que mais me chamou a atenção e acho que, de certa maneira, sintetiza o âmago do filme.
Marilia: Their fathers were very different but they were both born insane. It's my fault.
(não consegui encontrar esta frase no original, em espanhol)