Este é um filme de quando Hitchcock ainda tinha o cabelo preto e uma barriguinha mais pequena. Apesar de não se puder considerar um dos primeiros filmes, uma vez que ele já tinha feito vários antes, este filme, para mim pelo menos, é a da sua fase inicial. Dos poucos filme que já vi de Hitchcock (Vertigo e The Man Who Knew Too Much) posso dizer que, na minha opinião, ele guardou o melhor para o início.
Suspicion é uma verdadeira obra de arte.
O filme balança entre a música animada e a música de suspeita. A banda sonora torna-se assim essencial no compreender do filme (talvez por isso tenha sido nomeada com um Óscar em 1942). Suspicion está constantemente na corda bamba e quando pensamos que percebemos o que se está a passar lá vem outra explicação que nos mete em total suspeita. Este suspanse é alimentado, também, pela excelente performance de Cary Grant que passa tão facilmente de marido dedicado e apaixonado a um assassíno com os seus objectivos e capaz de fazer o que for preciso para os atingir. Como título diz, Suspeita em português, o próprio espectador deixa de ser um mero observador para passar a ser um juíz da história que tem as suas suspeitas, mas tal como a personagem de Joan Fontaine, sem nunca as confirmar. Via-se bem na sala de cinema da Cinemateca como o filme é tão "envolvente", pois à medida que o filme avançava ouvia os meus "colegas de cadeira" a lançarem julgamentos com os tão habituais suspiros e "pfffft".
Esta dicotomia é acompanhada ainda de outra: a do romance e do policial. O filme que, no início, se mostra tão romântico e bonito que até faz esboçar uns sorrisos, à medida que avança começa a pôr o espectador do lado defensivo, sempre com cuidado de esboçar um sorriso demasiado grande com medo de ser enganado.
E claro, a mestria do realizador não é alheia a nada disto. Já estamos habituados à atenção aos detalhes que Hitchcock tem e à sua capacidade fantástica de contar uma história deixando, literalmente, "o espectador agarrado à cadeira". Note-se só uma cena em que Hitchcock pôs uma luz no copo de leite que a personagem de Cary Grant levava, constrantando a personalidade sombria de Johnnie e a branqueza do leite, talvez envenenado.
Johnnie Aysgarth: If you're going to kill someone, do it simply.