Friday 30 December 2011

La Grande Illusion

Uma maneira perfeita de acabar 2011 e encarar 2012.
Uma obra-prima, uma ode à humanidade e à simples felicidade que, mesmo assim, nos deixa desiludidos quando somos confrontados com a ilusão de que nos rodeamos e a triste conclusão de que pouco ou nada aprendemos.

Out there, children play soldier...
In here, soldiers play like children.
- Capitão Boldieu, ai o Boldieu.
Em Carnage, Polanski "brinca" com a angústia do público, da mesma maneira que a opinião pública tanto o tem espicaçado. Toda esta manipulação das ansiedades do público começa pelo facto de nós sabermos que o filme se passa todo ali, que toda a acção se concentra naquela sala, e mesmo que julguemos que sim, a verdade é que não estamos prontos para aquele ambiente cansativo e claustrofóbico (no melhor sentido possível) que nos vai acompanhar e torturar durante uma hora e vinte.
Quando as personagens saem daquele ambiente, no início sentimo-nos desconfortaveis, na antecipação de ver como voltam para aquele espaço onde sabemos que todas as explosões emocionais se vão dar. Mas quando nos aproximamos do fim, tal como as personangens, precisamos de respirar um bocadinho, de sair dalí.
A intensidade do filme de Polanski é tão grande, não pelas imagens, não pelo drama, mas pelos diálogos rápidos, pelo caos, pelas reflexões feitas umas em cima das outras, que no fim saí de lá com uma grande dor de cabeça. Mas posso dizer, com todas as certezas, que esta foi a única dor de cabeça que alguma vez gostei de ter. Este é um dos grandes feitos de Polanski em Carnage: nós encarnamos, inconscientemente, as personagens e todos os seus dramas e neuroses.

Happy New Year's Eve, my friends.

“Only creeps and crazy people go out New Year’s Eve!”
Radio Days

Saturday 24 December 2011

definitely to watch:

Quem anda por detrás do cavalinho de La Science des Rêves é Lauri Faggioni.
Mais peças bonitas do filme de Gondry aqui.

Thursday 22 December 2011

We do not tolerate people that talk or text in the theater. In fact, before every film, we have several warnings on screen to prevent such happenings. Occasionally, someone doesn't follow the rules, and we do, in fact, kick their asses out of our theater. This video is an actual voicemail from a woman that was kicked out of one of our Austin theaters.

(talvez seja um tratamento um bocadinho extremo mas admito que às vezes me apetece fazer isto a alguns espectadores incómodos)

Istanbul Film Festival

Sei que já tenho um Fellini na parede mas não me importava de ter outro como aquele.
Mais disto por aqui.

Outsiders

 Stranger than Paradise, Jarmusch

Bande À Part, Godard

Jogo de sombras

It's Screaming Jay Hawkins, and he's a wild man, so bug off.

Saturday 17 December 2011

Premiers Plans

Mais um ano, mais uma excelente programação no Angers Film Festival.
Oh Pai Natal, leva-me para lá!

Sunday 11 December 2011

Manoel

E lá vão 103.

5 cinematic paper dolls

 The Margot (The Royal Tenenbaums)
 The Dude (The Big Lebowski)
 The Vincent Gallo (Buffalo 66)
 The Tom Waits
The Kate Winslet (Eternal Sunshine of the Spotless Mind)

Está friozinho, é melhor vestirmo-los.

Legen... wait for it... dairy!

Saturday 10 December 2011

Touch of Evil

No início estava pouco convencida com o Brad Pitt como Eraserhead mas depois rendi-me (aqui).
Touch of Evil da New York Times:
A video gallery of cinematic villainy, inspired by nefarious icons and featuring the best performers from the year in film.

Chaplin comes back to live!

É verdade o que dizem, hoje em dia faz-se de tudo.
E ainda bem, porque se não, não tinhamos fantoches do Chaplin, do Dalí ou do Freud! E há muitos mais. Eu cá contentava-me com o Louis Armstrong e o Oscar Wilde.
Todas estas maravilhas vêm daqui: The Unemployed Philosophers Guild.

The Power of Film by Howard Suber [Action]

[Um livro que me está a parecer muito interessante.
Para quem estiver interessado ele está online no Google books.]

The Power of Film by Howard Suber [Acting]

The Power of Film by Howard Suber [Accidents]

The Power of Film by Howard Suber [Introduction]

Terral Manifesto!!

"You may not be a Picasso or Mozart but you don’t have to be. Just create to create. Create to remind yourself you’re still alive. Make stuff to inspire others to make something too. Create to learn a bit more about yourself."

Au coeur des images de Georges Méliès


(mesmo que não percebam nada por estar em francês, vale a pena ver nem que seja só pelas imagens lindas, fantasmagóricas, astrais e coloridas dos filmes de Méliès)

Fellini & Tim Burton

 8 1/2
6

Thursday 8 December 2011

Wednesday 7 December 2011

Faire-Part: Musée Henri Langlois, Jean Rouch

A "carta filmada" ao ministro da altura, motivada pela estupefacção perante uma decisão tomada como errada, toma a forma de uma declaração de amor, àquele lugar e ao que ele representa, indissociável da evocação do seu criador.
Demorando-se nas salas, em alguns objectos, expondo algumas das ideias mestras de Langlois na construção do seu museu do cinema, mais distante da disciplina de museologia (talvez por isso Jack Lang não conseguia ver nele um museu, mas apenas um "gabinete de curiosidades", como faz saber Rouch) do que de um conhecimento e amor profundamente vividos com as peças, as instalações e aquilo que naquele lugar preciso elas invocavam, Rouch transmite o fulcro da experiência daquele museu, que se pode dizer concebido a partir de um trabalho de montagem (cinematográfica).
Como disse Rouch em 1997, o seu filme não mudou nada. O museu acabou. A última imagem é a da saída, onde a câmara se detém para fixar a imagem da Torre Eiffel através do vidro da porta da cinemateca, "a saída normal do museu do cinema". (Ou sim, mudou alguma coisa, porque o fantasma do museu do cinema de Henri Langlois volta a animar-se sempre que este filme é projectado).
Maria João Madeira

"Alguns dias mais tarde um incêndio devastava o museu dos Monumentos franceses, situado no andar de cima e, tentando apagar o fogo, os bombeiros inundaram e destruíram totalmente o Museu do Cinema. O nosso filme é o único testemunho dele."
Jean Rouch

(o que eu não dava por ter conhecido este museu...)

Don't Expect Too Much, Susan Ray

(Nick Ray, porque como dizia um amigo meu,
"ele é muito badass para ser Nicholas Ray")

Don't Expect Too Much, o documentário da mulher de Nicholas Ray, como objecto fílmico não é nada de especial: aquela irritante voz off robótica, a mudança de cenários a quando dos depoimentos, a falta de uma linha continua de pensamento e a construção e montagem um pouco amadora deixam muito a desejar. Porém, como documentário que dá a conhecer um pouco da essência, da forma de ver a vida e de ver o Cinema de Nick Ray, esta é uma excelente maneira de iniciamento na sua filmografia.
Nicholas Ray era um visionário, em nome da experiência e da quebra de regras, em nome do Cinema, fez a desconstrução do som e da imagem através da combinação de diversas formas de vídeos no seu filme inacabado e malogrado We Can't Go Home Again. Indo contra as regras típicas de contar uma história, tanto a nível narrativo como visual, tudo porque não queria "ver um rectângulo no ecrã", Nick Ray recorreu à projecção de imagens multiplas em simultâneo. Toda esta veia experimental de Ray mais evidente no final da sua vida e da sua carreira não deixa de ser um bocadinho angustiante para o espectador que vê as esperanças do realizador em relação a esta forma nova e excitante de fazer Cinema a irem por água a baixo. Muitas destas suas ideias foram esquecidas e o que supostamente ia revolucionar o Cinema acabou por chatear os críticos e deixar os espectadores confusos.
Mas Don't Expect Too Much mostra mais além disso. Mostra, como professor e cineasta, a crença de Nick Ray de que todos que faziam parte de um filme deviam trabalhar como um colectivo, fazendo de tudo um pouco, dominando toda a arte de fazer Cinema, não apenas um aspecto redutível dela. (Não consigo deixar de pensar como esta ideia de Nicholas Ray devia ser mais aplicada hoje em dia nas escolas de Cinema).
Por outro lado, como realizador, Ray é um cineasta que valoriza os actores, que os põe no centro de toda a composição cinematográfica. Eles e as suas emoções cruas e nuas são o centro de tudo, e a câmara é somente um meio de valorizar os actores, de os mostrar, nada mais. A câmara é um objecto à mercê dos actores e todas as outras experiências técnicas que são feitas com ela, de planos, de ângulos, são "pseudo-intelectualidades". Nicholas Ray diz-nos isso. Apesar de não concordar (basta olhar para os filmes de Antonioni e como os seus movimentos de câmara captam o pulsar dos espaços, das personagens e das suas angústias), é impossível ficar indiferente à forma como Ray vê o Cinema.
Por fim, o filme de Susan Ray mostra a descida em espiral de Nicholas Ray, a sua personalidade auto-destrutiva e desiludida com a vida. Como Godard que com 81 anos continua com ideias e prossegue na desconstrução do cinema (daí que tantos críticos digam que ele filma como um jovem), Nicholas Ray tinha ideias, continuava a ter algo a dizer, porém já ninguém o queria ouvir e o que (os críticos) nutriam por ele era admiração pelo que tinha sido e (os seus alunos) piedade daquele professor inovador e genial que se afogava intempestivamente nas suas próprias mágoas.

Ladies and gentlemen, film is a way of life. I can't teach you how to make films.
- Nicholas Ray

Sunday 4 December 2011

A loucura contagiosa de Almodóvar

Se refizermos todos os momentos da história de La Piel que Habito, voltando atrás no tempo, tudo regressa a uma relação, a relação doentia entre dois irmãos, que herdaram a loucura da sua mãe. Apesar de passar um pouco despercebida, acho que a personagem de Marilia existe no filme de Almodóvar de uma forma muito discreta mas muito essencial. Nada foi deixado ao acaso neste filme, surgindo mesmo diversos pormenores que aos olhares mais atentos denunciam o desenrolar da trama como o facto de Vera querer ir para o jardim com Zeca ou o vestido que usa no fim do filme. A loucura parece como que quase um gene feminino nos filmes de Almodóvar e neste essa ideia é levada a um extremo, é uma loucura hereditária e contagiosa com consequências mórbidas.
Todas as personagens parecem cada vez mais embrenhadas na loucura desta mulher, que acaba por ser mais representada pelo seu filho, Robert, o cirurgião cujos "genes doentios" e as suas inevitáveis consequências o levam a criar uma personalidade quase como Dr. Jekyll (o célebre cirurgião) e Mr. Hyde (o homem que mantém refém uma mulher para a usar como cobaia das suas experiências retorcidas). Neste filme, Robert é a figura central, a sua vida passada é-nos contada e vemos todas as consequências trágicas desses acontecimentos na sua vida presente, mas, acredito que, apesar de muito discreta e subtilmente, Marilia é o cerne de tudo. Na verdade, a loucura quase genética das mulheres é o cerne de tudo, enquanto a história é o desenrolar sinistro e complexo dessa ideia.
O filme tem bastante mais a dizer do que isso mas esta foi a ideia que mais me chamou a atenção e acho que, de certa maneira, sintetiza o âmago do filme.

Marilia: Their fathers were very different but they were both born insane. It's my fault.
(não consegui encontrar esta frase no original, em espanhol)