Quando o filme começa, e o filme dentro do filme é logo assim tão cativante é bom sinal. No início de The Artist, vemos uma sala de cinema dos anos 20, o público perfeitamente alinhado que, enquanto fala e ri, vê um filme, de uma história típica de aventuras e desventuras mas onde os jogos de sombra e o escuro do preto e branco, que lembram os film noir, falam por si só.
Começamos bem.
Começamos bem.
Sei que sou parcial mas simplesmente por trazer aquela época de ouro de volta, The Artist tem já um lugar especial no meu coração. É bom ver um filme tão audaz (a preto e branco e mudo em pleno século XXI) onde se oscila entre influências como Singin' in the Rain ou Sunset Boulevard. É uma história simples, mas a forma tão nobre e especial como Michel Hazanavicius faz esta homenagem a tempos idos é o que dá todo ao charme ao filme. Não é um simples filme com referências cinematográficas ou uma simples homenagem, é um filme único pois ao honrar um período do cinema, pega nele e cria algo novo.
Àquele preto e branco lindo com os respectivos jogos de iluminação juntam-se os close- ups, umas vezes da cara desesperada de George Valentin, outras vezes da cara apaixonada de Peppy Miller. A banda sonora de Ludovic Bource é fantástica ao acompanhar os altos e baixos da história, mas melhor ainda é quando pára, e surgem momentos de silêncio por 2 minutos, onde temos uma pequena janela de oportunidade para perceber a complexidade da personagem de George Valentin, naquele seu grito de desespero.
Neste jogo entre o cómico típico de Chaplin (existem momentos verdadeiramente cómicos) e o drama que talvez, por momentos, lembra Buster Keaton, o homem que não ri mas faz rir, surgem as personagens. As personagens com as quais estabelecemos uma incrível empatia. Damos por nós a dizer interiormente "não, não faças isso". Até isto relembra a época que Hazanavicius quer homenagear. Era o tempo em que à medida que o filme avançava também nós nos tornava-mos mais próximos das personagens. Não eram ídolos inantigiveís, mas sim amigos pelos quais torcíamos para que tudo corresse bem. Também isto não seria possível sem os actores, está claro. Não só Jean Dujardin, mas também John Goodman, James Cromwell e até o minúsculo papel de Malcolm McDowell ("olha o Alex!" disse eu na minha cabeça). E o cão, evidentemente.
Quando o filme acaba surge uma dança, passamos de Chaplin para Gene Kelly. Uma dança de pôr o pé a bater no chão e depois, finalmente, aparecem sons, palavras, pessoas a falarem. Parece que durante o filme todo estivemos surdos, estavamos a cantarolar a banda sonora na nossa cabeça, e o que importava eram só as imagens. Achamos piada às poucas palavras que surgem no fim e é a maneira perfeita para acabar o filme, com um "role action!" ou uma coisa do género, mas é aí que percebemos que podíamos ouvir mais umas horas daquela música e continuar a ser hipnotizados pelas imagens, somente por aquelas imagens em movimento.
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