[é de 2005 mas é tão bom encontrar estas coisas]
Depois de ler o fantástico Vírus da Vida:
O nome dos Belle Chase Hotel vem dum filme do Jim Jarmusch, o do Quinteto Tati remete para Jacques Tati. Qual é a tua relação com o cinema?
Não sei se isso será alguma coincidência. A referência ao Jacques Tati e àquela ideia dum tipo humano e dócil que se passeia no meio das estruturas burguesas e burocráticas sem encaixar muito bem no meio delas, sem que as estruturas o consigam estandartizar, é um lado curioso. É um lado que me fascina por existirem pessoas que conseguem criar uma dimensão individual que ultrapassa a social. É como se a social fosse uma espécie de metáfora grotesca da liberdade e responsabilidade pessoal. Quando começámos a fazer música para teatro, na ópera, tentámos fazer uma música mais fílmica. Acabou por não acontecer, acabámos por fazer canções e fazer canções com uma inscrição muito mais pessoal, mais dramáticas e com uma ironia menos brilhante e positiva que o Jacques Tati. A referência ao cinema traduz-se sempre por o cinema ser um depósito de imagens e de construções humanas. Portanto, quando falas em música, um gajo não se vai chamar dó maior porque gosta mais do dó maior, ou escala menor porque o seu trabalho tem muito mais a ver com acordes menores do que o resto. O universo tem sempre a ver com a imagem. Um título é uma sugestão. É fácil ligar isto ao cinema e o cinema ser um ponto de partida filosófico, histórico ou afectivo para o que se irá fazer.
Nos Belle Chase Hotel andavámos à procura de nomes, nenhum tinha a ver com cinema. Mas quando toda a gente se apercebeu da história que estava à volta desse hotel, houve um lado curioso, um lado mais ou menos consensual na capacidade sugestiva que esse nome tinha. Veio das imagens, da música à volta do filme, os actores eram músicos, temos ali uma data de ligações.
O que é que aconteceu ao teu bigode?
Sabes que os bigodes, com o tempo, começam a ficar cheios de sopa juliana, de caldo verde e a coisa começa a ficar pior. Quando me apareceu um cogumelo no bigode, tive que o cortar, porque estavam a nascer coisas que eu já não queria no bigode. Equívocos cogumelos nasceram do meu bigode, e deixei de me dar tão bem com ele. Corria o risco de me transformar num bigode, e eu não queria de modo nenhum transformar-me num bigode. Não é que o meu amor-próprio seja enorme, mas há limites. E acho que tenho conseguido, o que é que te parece?
Eu acho que sim.
Obrigado, isso foi motivador.
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ahaha que cómico. tbm tenho essa ultimo pergunta num post muito remoto. Não fosse o meu blog sobre bigodes.
ReplyDeletecada vez este homem me fascina mais! tens que me deixar ver o El Justiciero que estou a fazer um trabalho sobre o Vírus da Vida! depois tji conto
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